Convite ao aconchego na Casa do Artesão

Ai que saudade da casa da vovó! Casa de vó é sempre um aconchego pro corpo e pro coração. As casas das avós de antigamente, por mais simples que fossem, guardavam um charme e uma característica únicas. Paninhos por todos os lados, passarelas, caixinhas, bordados diversos, tapetes... detalhes especiais que a praticidade e a correria dos dias atuais têm banido dos lares. Esses detalhes ainda eram ornados pelo delicioso cheiro de bolo quentinho, ou um biscoitinho de chuva feito na hora. Ah, as sábias avós... que tinham e têm uma palavra, psicologia nata, própria para cada neto e cada ocasião.

Para reviver essa saudade e dar alento ao coração, encontro, na Casa do Artesão, muitas peças que remetem à minha avó e às avós de meus amigos de infância, em cujas casas eu era recebida e acarinhada como da família.

Minha avó mantinha, aos pés da cama, vários desses tapetinhos de retalho, próprios para os pés não pegarem a friagem do chão. A artesã Dona Sebastiana Rocha sabe do que estou falando. Ela tece caprichados tapetes de retalho.


Quando o assunto era batizar neto, as avós se prontificavam a preparar a mais linda toalha de tecido, com barra de abrolhos – “coisa fina” - que servia para todos os netos da família. Alucimar Mendonça e Maria Alice Rios são artesãs que ainda seguem a tradição, confeccionando toalhas com diferentes modelos.

As vovós abriam suas caixas de costura, onde retrozes, tesouras e fitas métricas eram carinhosamente guardados, para alinhavar uma bainha, cerzir um paninho, dar uma pence num vestido. Caixas que pareciam guardar segredos e tesouros, devido ao cuidado com que eram manuseadas. Caixas como as que a artesã Máriam Coutinho confecciona.


Falar em cozinha de vó é falar de riqueza de delícias e detalhes. No fogão, a chaleira esquentando a água para um cafezinho “passado” no coador de pano, que a artesã Bernadeth Borchio reproduz ricamente;
na parede panos de prato limpíssimos, com singelos e simples bordados manuais, como os que hoje dona Ana Dias ainda faz com esmero. Depois, vem o cafezinho, na delicada bandeja de crochê com vidro – uma coisa! Dona Luzia Reis as faz com perfeição!

A mesa é ornada com passarela de fuxico, um delicado e multicolorido trabalho lindo de viver! Quem ainda faz é a artesã Maria Elena Chaves. Ou ainda com peças de crochê, como as tecidas pelas mãos de Maria das Graças Soares.


Casa de vó tem o tempero caseiro, a dedicação do tempo a preparar o que de melhor se pode para receber a família, os amigos, os vizinhos, os parentes que vêm de longe. Casa de vó tem mãos de verdade e dedos de fada em cada canto. Puro aconchego! Casa de vó tem o carinho do trabalho pessoal, artesanal em cada detalhe. Carinho que hoje ainda podemos ter em casa, através de mulheres especiais, que mantêm a tradição, dando continuidade às graciosidades e encantos das casas brasileiras. Tal qual na casa de minha avó, hoje na Casa do Artesão, encontro objetos que têm alma e que podem aquecer qualquer outra casa, especialmente, a minha e as daqueles a quem quero presentear com algo especial.

Rosimere Ferreira
Julho de 2010