Anna Maria Coutinho Cunha

Quem conhece o jeito de moleca atrapalhada da professora Anna Maria Cunha não imagina sua habilidade para transformar em arte e graça tudo o que toca. Pintura, ela faz em tela, cerâmica e tecido. Reciclagem também, e ainda pátina, bordado, abrolhos, decoupage, craquelê e patchwork. Ah! E desde os 5 anos de idade já fazia vestidos de crochê para suas bonecas, deixando as amiguinhas boquiabertas.

Essa jovem senhora de 65 anos faz artesanato como terapia, porque acredita ser hiperativa. De fato, ela se atropela nas palavras, não para quieta um minuto e presta atenção a tudo o que acontece à volta. É ligadona! Talvez por isto consiga fazer de tudo um pouco - de delicadas flores pintadas a peças de sucata reciclada que se transformam de lixo em objeto de desejo ao passar por suas mãos.


Com alegria e entusiasmo contagiantes, dona Anna circula o dia todo entre seu ateliê e a Casa do Artesão de Porciúncula. Vários são os motivos; e lista-os conforme a ordem: “Somos vizinhas, amo artesanato, amo a Casa do Artesão e fui eleita recentemente presidente da Associação Casa do Artesão de Porciúncula. Não passo um dia da minha vida sem vir aqui!”

Mística, sabe o poder das mãos e das palavras, por isto não é de negativismos, e suas hábeis e habilidosas mãos estão sempre aprontando alguma coisa para alguém ou para seu próprio prazer, como parte de sua terapia. Suas mãos falam em várias linguagens e deixam a marca de uma mulher forte, que se inspira com tudo a sua volta. É versátil, não tem medo de transformar e de agregar o que o mundo oferece. Com bom gosto e extrema habilidade manual, solta sua imaginação para fazer arte.
Em seu ateliê encontram-se pedaços de sua vida e ainda cabe o que os familiares dispensam. O que foi descartado em outros tempos, serve para a artista em algum momento.
Técnica, amor, dedicação e uma pitada de piração (típico de todo artista!) – esta é a receita básica que dona Anna usa para transformar, reformar, criar e fazer qualquer material virar uma obra de arte.

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Cultura entrevista

Anna Maria Coutinho da Cunha - Presidente da Associação Casa do Artesão de Porciúncula

1. O que significa a Casa do Artesão para Porciúncula?

Esta casa significa o sustento de muita gente desta cidade. E eu tenho muito medo disso acabar devido ao pouco valor que as pessoas dão ao artesanato, infelizmente. Mas isto aqui significa 100% de renda para muitos dos cerca de 120 artesãos atuantes.

2. O que significa a Casa do Artesão para a senhora?

Aqui é a continuidade da minha vida, a minha sala de visita. Não sei de um dia desde que abriu, em 1998, em que não estive aqui. Conheço todos os produtos expostos aqui.

3. Quais as propostas de trabalho com os artesãos durante sua gestão?

Sei que é ilusão, mas gostaria de sacudir os artesãos, mostrar para eles o valor desta casa e a seriedade que é fazer artesanato. Tem gente que brinca de fazer artesanato. Mas outros querem, de verdade, ser artesão. Muitos não entendem que artesanato vende devagar, e desanimam. Então, os artesãos precisam entender que artesanato vende devagar mesmo. Casa do Artesão é diferente de mercado com produtos industrializados. Temos que competir com lojas de produtos de R$1,99 que oferecem presentes populares e baratos. E o artesão não pode desistir por não ter vendido muito, porque o nosso produto é diferenciado, vende devagar mesmo.

4. Quais as maiores dificuldades encontradas como presidente?

Realmente, é lidar com o artesão. Temos aqui cerca de 300 membros cadastrados e de 100 a 120 atuantes. É preciso colocar conscientizá-los que temos que despoluir a área da Casa, que não temos espaço para várias mercadorias do mesmo tipo, 50 tipos de pano, por exemplo. Se a gente pede a diminuição da produção, o artesão fica chateado, achando que estamos fazendo pouco caso de seus produtos, mas sou a maior incentivadora do artesanato municipal. É realmente difícil lidar com o artesão.

5. Como a Casa do Artesão contribui com a geração de renda no município?

A Casa do Artesão é um ponto de vendas sem gasto para o artesão. Ele só precisa produzir e isto é uma grande ajuda e uma facilidade. Aqui ele tem ponto no centro da cidade, vendedora, gente para receber o dinheiro dele e guardar, divulgação de seus produtos e ainda oferecemos cursos e oficinas, além de levarmos seus produtos para feiras e exposições. Assim, fica fácil para o artesão produzir. Eles participam apenas trazendo seus produtos e voltando para receber. Posso dizer que em quase lugar nenhum existe uma Casa do Artesão patrocinando o artesanato como a daqui faz.

6. O que é necessário para o artesanato de Porciúncula tornar-se mais requisitado?

Precisamos conseguir um apoio maior do Sebrae no envio de consultorias constantes. É preciso também que as pessoas se capacitem para montarem outras associações e desagarrarem do apadrinhamento da prefeitura.